Memorial aos combatentes da freguesia de Mansores
Conceção: José António Rocha e Márcia Moreira
Entidade responsável: Junta de Freguesia de Mansores
Execução: Grampedra
Localização: Alameda dos Benfeitores, Mansores
Inauguração: 16 de junho de 2024
Memória descritiva:
No memorial estão inscritos os nomes de 101 cidadãos que se sabe (e nalguns casos se presume com base nas fontes) terem sido recrutados e mobilizados para cenários de guerra. A eleição dos nomes assentou em evidências documentais (e nalguns casos em indícios plausíveis) e em testemunhos orais confiáveis. Destes 101 cidadãos, 91 são naturais de Mansores e 10 fixaram-se nesta freguesia por casamento. E destes mesmos 101 cidadãos, dois participaram na Guerra da Restauração, 26 foram enviados para a Grande Guerra, dois combateram a Monarquia do Norte e 71 foram mobilizados para a Guerra Colonial. Informações mais detalhadas sobre a participação destes mansorenses em conflitos militares e sobre a sua identidade podem ser consultadas no texto “A participação de mansorenses em conflitos militares”, disponível aqui.
A materialidade do memorial corresponde a um bloco de granito com 2,5 metros de altura por 1,08 metros de largura, parcialmente integrado no alicerce, sobre o qual foi aplicado um painel de aço com dimensões de 2 metros de altura por 1 metro de largura. No painel estão recortados os nomes dos cidadãos militares identificados. Procurou-se, pois, em termos de materiais selecionados, transmitir um conceito minimalista e sóbrio, que aponte para os valores da verticalidade, da resistência e do serviço. Em termos de conteúdos, apostou-se na força das palavras escritas, não umas palavras quaisquer, mas palavras que dizem nomes de pessoas, que são os referenciais primeiros das suas identidades. Porque verba volant, scripta manent, como se lê, nem a propósito, na divisa das armas adotadas pelo Arquivo Geral do Exército, a recordar-nos o valor que só o documento escrito tem.
Por via da combinação de materiais telúricos (granito, rocha abundante e emblemática da nossa freguesia; e aço, liga metálica composta sobretudo por ferro) e dos nomes escritos, foi propósito dos proponentes deste memorial homenagear a sua terra natal, na figura dos seus militares combatentes. Uns travaram já o seu último combate sobre a Terra; os demais travá-lo-ão, e o nome de todos e de cada um permanecerá recortado no aço, a lembrar aos viandantes que foram e quem foram os mansorenses que um dia a Pátria chamou a ser nossos defensores.
Algumas notas se impõem aqui a respeito de possíveis ausências e de prováveis erros nos nomes inscritos no memorial e nas informações complementares constantes nas tabelas do documento complementar acima referido. Estes 101 nomes são aqueles que as fontes nos permitiram recolher; terão havido outros cidadãos de Mansores mobilizados para conflitos militares, que não conseguimos identificar. Os seus nomes talvez fiquem irremediavelmente submersos nas brumas do tempo, quem sabe se emergirão um dia? Quiçá a publicidade do Memorial espolete, acelere a sua emersão; será irónico, pois contribuirá simultaneamente para a completude do objetivo do Memorial e para a perceção da sua incompletude.
Em muitos casos as fontes para a formulação dos nomes foram os registos paroquiais; ora, nem sempre os nomes com que os cidadãos foram registados permaneceram em uso com formulação absoluta; era frequente haver oscilações. Para dar três exemplos: António Correia Borges surge em vários documentos como António Francisco Borges; Manuel da Conceição Almeida surge no registo de batismo como Manuel Gomes de Almeida; e Manuel da Silva Neves Moreira foi batizado como Manuel da Silva Neves. A par disso, nalguns casos poderemos ter lido mal as fontes. Enfim, em último caso, o nome é um metadado, pelo que o que interessa efetivamente é a pessoa que representa.
Uma nota final sobre o conceito de Memorial. Quando adotámos este conceito, fizemo-lo na intenção de nos distanciarmos (na designação do objeto expositivo, e em coerência com a sua materialidade) do conceito de monumento. Isto nunca pretendeu ser um monumento! Procurámos algo minimalista que assinalasse os nomes e fizesse memória, daí a categorização como memorial, mesmo cientes de que uma das aceções da palavra é a de “monumento erguido em homenagem ou memória de algum acontecimento ou pessoa(s)” (Infopedia). Ora, há na tradição memorialista a consagração do conceito de memorial em sentido restrito de memorial aos mortos em combate ou memorial aos mortos ao serviço da Pátria, e não em sentido lato de memorial aplicável aos combatentes em geral. O sentido que usamos é o lato.